João José Azevedo Curvello (Universidade de São Paulo - Brasil)
Texto elaborado especialmente para a edição número 1000 do Boletim de Informação ao Pessoal (Bipel) do Banco do Brasil . Maio de 1997.
Textos de edições comemorativas geralmente voltam-se para o passado. Nosso objetivo, porém, é outro. Decidimos falar de futuro, na tentativa de refletir sobre como a comunicação interna pode ainda contribuir para o entendimento entre empresa e empregados nesse clima de mudanças e incertezas.
De início, é possível perceber uma tendência nos meios empresariais para a superação da já ultrapassada prática de transmissão unilateral de informações, típica de um período em que se buscava evitar ou ocultar os conflitos inerentes ao ambiente das empresas. Um período, também, em que só podiam ser divulgados fatos que não gerassem polêmica.
Nos últimos anos, temos presenciado uma abertura em termos de conteúdos e à ruína de alguns tabus, como relações com os sindicatos, temas políticos e outros assuntos, como controle de natalidade e doenças provocadas pelo trabalho. A própria trajetória do Bipel nessas 1000 edições é uma prova disso. Outro fato inegável é que muitas empresas têm buscado estabelecer relações mais transparentes e éticas com os seus diversos públicos.
Paralelamente, com o advento de novos modelos organizacionais voltados para a cooperação e a competência e a possibilidade de se estabelecerem novas relações de trabalho não mais baseadas em normas e regulamentos padronizados de mediação, mas na confiança, desenha-se um novo cenário para a comunicação interna. Nesse contexto, muitas empresas, no país e no exterior, têm-se mostrado propensas a incentivar e garantir o livre trânsito de idéias como meio eficaz para buscar o aprendizado e a inovação permanentes.
Além disso, as novas tecnologias de comunicação permitem possibilidades ilimitadas de interação. É possível prever que, apesar da impessoalidade desses novos meios e de algumas resistências, o diálogo e a participação deverão ganhar maior espaço nas empresas. E isso não virá porque algum profissional de comunicação assim o quer, mas por uma simples questão de adaptação e sobrevivência.
Creio que o Bipel ainda tem um longo caminho a percorrer até chegar a esse novo patamar, mas, com certeza, chegará, pois como bem disse o pesquisador argentino Ricardo Noseda, "comunicação não é ato, mas processo pelo qual o indivíduo entra em cooperação mental com outro até que ambos alcancem uma consciência comum... A irradiação de mensagens sem retorno de diálogo, proveniente de informantes centralizados, não pode ser identificada com a co-atividade intra-subjetiva característica da comunicação".