Vivemos uma era de profundas transformações. De um lado, a chamada globalização, termo que se tornou obrigatório em todos os círculos intelectuais, políticos e econômicos. Fenômeno facilitado pelas novas tecnologias da informação, pressupõe uma evolução do tradicional processo de internacionalização de mercados oriúndo dos primórdios do capitalismo. Esse novo processo não é mais conduzido apenas por nações, mas, sobretudo, pelas organizações antes denominadas multinacionais, transnacionais ou mundializadas. Essas organizações gerenciam espaços que atravessam as fronteiras territoriais. (Ianni, 1996)
Com seu processo de aceleração, a globalização do mundo modifica, também, as noções de tempo e de espaço. A velocidade crescente que envolve as comunicações, os mercados, os fluxos de capitais e tecnologias, as trocas de idéias e imagens nesse final de século impõem a dissolução de fronteiras e de barreiras protecionistas. Em todo o momento se estabelecem tensos diálogos entre o local e o global, a homogeneidade e a diversidade, o real e o virtual, a ordem e o caos.
Afora isso, no ambiente organizacional, a convivência com a mudança, paradoxalmente, virou rotina. Da introdução ao abandono de um sem número de modismos e conceitos, é possível identificar uma busca incessante em manter alguma ordem perante o caos em que se transformaram as organizações neste final de século. Tudo isso caracteriza uma percepção de que não há mais espaço para a mentalidade tradicional e que novos signos emergem e novas formas de relacionamento e comunicação se contróem.
Liderando ou sendo carregadas por essa nova onda, as organizações passam por profundas transformações. O antigo tripé do conceito de organizações - pessoas, estrutura e tecnologia - entra em xeque, uma vez que esses componentes não mais precisam abrigar-se sob um mesmo espaço nem operarem a um mesmo tempo para configurarem uma organização.
Entretanto, de todos os componentes de uma organização, as pessoas são as que sofrem os maiores impactos com a virtualização imposta pela globalização e pelas novas tecnologias. A crescente informatização dos processos administrativos e a proliferação de novas tecnologias para transmissão de dados estão apontando para o desaparecimento dos escritórios, para uma deslocalização do trabalho, para uma corrosão dos cargos, para o fim do emprego.
Esse cenário ao mesmo tempo estimulante e sombrio provoca uma série de reflexões. Por exemplo, qual será o futuro da dimensão humana nas organizações? O que ainda pode ser feito para reinserir as pessoas em espaços dos quais vêm sendo expulsas? Como também as organizações poderão sobreviver sem a criatividade, o talento e a imprevisibilidade que só as pessoas podem oferecer? O que pode ainda ser feito para que a criatividade e a inovação aflorem no âmbito organizacional?
Uma das respostas pode estar no processo de aprender. Processo que se dá individual e coletivamente e que pode significar uma verdadeira alavanca para pessoas e empresas.
O objetivo deste trabalho é mostrar a aprendizagem e a qualificação pessoal e organizacional como processos de comunicação. Pretendemos também demonstrar como a livre circulação de idéias e informações pode contribuir para arejar o ambiente interno e criar um clima propício ao crescimento.
Para isso, discutiremos inicialmente como se caracteriza e como se constrói uma organização qualificante, voltada para o aprendizado e a inovação constantes. Analisaremos, ainda, como as culturas organizacionais podem voltar-se para a inovação e como se apresentam as resistências a esses processos. Depois, veremos como o tratamento normalmente dispensado à comunicação nas organizações tem servido como entrave ao aprendizado e ao compartilhamento de experiências. Ao final, à luz das mudanças trazidas pela inserção de novas tecnologias de comunicação, levantaremos as perspectivas vislumbradas para que a instância da comunicação seja legitimada como uma das construtoras e definidoras do aprendizado organizacional.
Publicada originalmente em: 26/09/97