E a lanchonete também tirou a máscara
Nos últimos posts tenho insistido muito na necessidade de separarmos o joio do trigo quando falamos de responsabilidade social.
Hoje, por exemplo, ouvi uma pérola radiofônica que merece reflexão.
Uma conhecida rede internacional de lanchonetes, que uma vez por ano realiza um dia especial de vendas de um de seus mais famosos sanduíches, em benefício de instituições que atuam no combate ao câncer infantil, anunciava em um spot de rádio esse benemérito dia. Até aí, nada de mais.
O conteúdo da mensagem, porém, é que vinha impregnado de significados. No spot, uma criança, reconhecida pela voz, dizia para sua mãe que o referido sanduíche fazia bem à saúde. No caso, não pelas qualidades nutritivas do produto, mas pela destinação das vendas desse dia especial para o combate à enfermidade. Depois, uma locução em off anunciava os detalhes para participação do público. Ao final, porém, numa espécie de debafo, o jovem emite em tom entediado a expressão “brócolis”, como quem usou todo o discurso para evitar comer o que havia sido oferecido pela mãe.
Alguns dirão que gosto não se discute. Mas o que está em discussão aqui é o teor da mensagem que diz: contribua com a saúde, mesmo abdicando de consumir produtos saudáveis. Na tentativa de vender um discurso institucional purificador, por um lado, e de aproveitar, por outro, a mensagem para dizer que seu produto é mais gostoso do que a outra opção saudável, essa benemérita organização praticamente desnudou-se da máscara de empresa socialmente responsável.