As organizações efêmeras, sem vínculos, sem estabilidade

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Pós-Graduação,Reflexões,Teorias | sexta-feira, janeiro 7th, 2011

Efemero NewEste trecho foi extraído do meu artigo Um olhar comunicacional sobre a autonomia e a interdependência nas relações de trabalho, publicado no livro organizado pela professora Margarida Kunsch, A Comunicação como Fator de Humanização das Organizações, editado pela Difusão em 2010 (p. 77-92):

“O conceito de organizações efêmeras aparece pela primeira vez em um ensaio do sociólogo italiano Giovan Lanzara (1983). Ao relatar os processos organizativos emergentes após o terremoto que abalou o sul da Itália em 1980, o autor destaca algumas características e comportamentos próprios dessas organizações, as quais denominou de informais e efêmeras. Por exemplo, seriam marcas desse perfil de organizações a “desafeição psicológica” e a “desconfiança moral e política” (LANZARA, 1983: 75). Conforme destacadas por Andrade (2005, p. 633, citando LANZARA, 1983, p. 88), essas organizações “não têm passado ou futuro, vivem no presente, não contam histórias sobre si mesmas e não projectam a sua imagem no futuro, tudo jogando no presente”.

Uma outra característica desse modelo emergente de organização é que seria também um sistema caórdico, uma espécie de organismo, organização ou sistema auto-regulado que combina de modo equilibrado os estados de ordem e caos. Sistemas assim são estruturados de modo a não ser inteiramente tomados, seja pelo caos, seja pela ordem. São auto-organizados, como o são todos os sistemas do mundo natural. (MARIOTTI, 2007, p.148).

São também estruturas complexas, que não se confundem com complicação nem são transparentes e inteligíveis, mas que só existem a partir da observação, pois “mesmo as relações de trabalho e até aquelas desenvolvidas entre organização e públicos (como sistemas autônomos que são) seriam, antes de tudo, relações de observação, de contraposição, de redução de complexidade” (CURVELLO, 2009, p. 102). Nessa perspectiva, os indivíduos não estariam subsumidos à organização, mas seriam, sobretudo, observadores autônomos, ainda que eventualmente acoplados estruturalmente ao contexto organizacional.

Dessa forma, seja qual for o contexto, nesses tempos típicos de uma pós-modernidade líquida, diluída, quer seja simplesmente o número de opções disponíveis aos indivíduos, ou o leque de stakeholders envolvidos no processo de tomada de decisão, ou ainda o aumento das conexões entre organizações, parece que estamos a entrar numa época em que parcerias e cooperação e a tomada de decisão nos princípios de multiagency (no sentido lato), passa a ser crucial (Taket e White apud JACKSON, 2000, p.335). Assim, as bases terão de ser permanentemente negociadas e renegociadas, numa espécie de busca de um equilíbrio tensionado ou da denominada ordem negociada como proposto por Strauss (apud CARAPINHEIRO, 1993, p. 63).”

Referências:

ANDRADE, Rogério Ferreira de. Quando nos Roubam o Chão Obrigam-nos a Voar: narrativas erosivas e extinção moral das organizações. Lisboa: Actas do 4º. SOPCOM, 2005. Consultado na internet em 17/02/2010, no endereço: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/andrade-rogerio-quando-roubam-chao-obriga-nos-voar.pdf >

CARAPINHEIRO, G. Subjetividade e administração de pessoal: considerações sobre modos de gerenciar trabalhos em equipes de saúde. In: EE Merby e RT Onocko. Agir em Saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec, 1993.

CURVELLO, João José Azevedo – A perspectiva sistêmico-comunicacional das organizações e sua importância para os estudos da comunicação organizacional. In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Comunicação Organizacional: Histórico, fundamentos e processos. Volume I. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 91-105.

JACKSON, Michael C.. Systems Approaches to Management. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, 2000.

LANZARA, Giovan. Ephemeral organizations in extreme environments: Emergence, strategy, extinction, In Journal of Management Studies, 20: 7195, 1983

MARIOTTI, Humberto. Pensamento Complexo: suas implicações à Liderança, à Aprendizagem e ao Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Atlas, 2007.

Sennet e os novos sentidos do trabalho

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões,Teorias | quinta-feira, janeiro 6th, 2011

SennetUm dos autores fundamentais para a compreensão crítica dos novos sentidos no mundo do trabalho é Richard Sennet. Em duas obras publicadas no Brasil na última década (vide referências), disseca como poucos os impactos que as mudanças tecnológicas e gerenciais provocam junto aos trabalhadores e às organizações.

No novo cenário do trabalho, na denominada sociedade pós-industrial e informacionalista, a valorização da velocidade – traduzida na busca incessante pelo resultado no curto prazo, nas estruturas orientadas por projetos, e na flexibilidade dos contratos – acaba por não permitir que as pessoas desenvolvam experiências ou construam uma narrativa coerente para suas vidas, além de afetar a confiança e o comportamento ético (Sennet, 2000).

Esse processo se caracteriza por novas formas e novos modelos de contratação, conforme identificados pelo mesmo Sennet (2006): a casualização (contratação de terceiros ou profissionais por tarefas); a dessedimentação (fragmentação do trabalho); e o sequenciamento não linear (a produção é flexível).

Essa desestruturação das narrativas do trabalho, aliada à alta rotatividade e à implantação de conceitos como o de empregabilidade, que tira do Estado e das organizações a responsabilidade pelos empregos, jogando-a nos braços dos trabalhadores, acaba por acarretar um baixo nível de lealdade institucional, uma diminuição da confiança informal e a diluição do conhecimento institucional.

O capitalismo contemporâneo estaria ancorado, portanto, segundo Sennet (2006), nas novas e frágeis bases de uma burocracia reconfigurada e renovada pela flexibilização e pelo informacionalismo; da gestão dos talentos, que impõe aos trabalhadores o movimento de capacitação e atualização permanentes; e do consumo, em todas as esferas, do mercadológico ao institucional, do privado ao público. O indivíduo, nesse cenário, se vê diante dos seguintes dilemas: para existir socialmente, precisa consumir; para consumir, precisa das recompensas de estar ligado à nova burocracia; para conectar-se à burocracia, precisa estar capacitado.

Referências:

SENNET, Richard. A corrosão do caráter. Rio de Janeiro: Record, 2000.

SENNET, Richard. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006.

Atualizada a lista de eventos

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Pós-Graduação | terça-feira, janeiro 4th, 2011

A lista com alguns dos principais eventos das áreas de comunicação e de estudos organizacionais marcados para 2011 e 2012 foi atualizada.

Para conferir os eventos, as datas, locais e prazos de submissão, acesse: blog.acaocomunicativa.pro.br/eventos/

16 anos de Ação Comunicativa

João J. A. Curvello | Reflexões | sábado, janeiro 1st, 2011

16bHá 16 anos, começamos nossa caminhada no mundo da internet. Inicialmente, hospedados no pioneiro Terravista, host português, com uma página cheia de frames e apenas baseada em html. Depois, já com domínio próprio, buscamos continuar com o desafio de debater os contextos da comunicação, com ênfase no organizacional.

Já tivemos um ritmo de atualização muito mais acelerado, é verdade. Mas nunca abdicamos da análise crítica e independente sobre os fenômenos da comunicação.

Em 2011, teremos novidades e muito mais conteúdo. E isso não é uma promessa, é um compromisso.