O Medo Global, por Eduardo Galeano
O Medo Global
Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo de comida.
Os motoristas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de serem atropelados.
A democracia tem medo de lembrar e a linguagem tem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.
É o tempo do medo.
Medo da mulher da violência do homem e medo do homem da mulher sem medo.
Medo dos ladrões, medo da polícia.
Medo da porta sem fechaduras, do tempo sem relógios, da criança sem televisão, medo da noite sem comprimidos para dormir e medo do dia sem comprimidos para despertar.
Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver.
Eduardo Galeano, publicado em: De Pernas Pro Ar – A Escola do Mundo ao Avesso.
Maravilosa publicação.
No ano passado, meu vizinho e amigo enviou um e-mail com uma recomendação de leitura, dizia ser um livro que não poderíamos deixar de ler: “De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso”, Eduardo Galeano. Anotei em minha agenda o título e o autor, pois considero muito as opiniões desse amigo. Se ele se deu ao trabalho de escrever uma mensage e passar a sugestão a todos nós de sua lista é porque trata-se de um texto merecedor de nossa atenção. Eis que hoje, ao visitar esse site, descubro esse lindo trecho, abro a agenda e é o mesmo autor e obra. Traz também um link para Zigmunt Bauman, sociólogo polonês, autor de “A fragilidade dos laços humanos”, que também fala sobre a presença do medo global e diz que a “velocidade faz mal à sociedade”, mentor do movimento “slow food” e congêneres.
Nathália