Pouco “panis” e muito “circencis”
Um fênomeno que tenho observado com crescente frequência no mundo empresarial é o show dos eventos motivacionais, típico das práticas performáticas introduzidas ou ampliadas pelo chamado marketing interno.
Como já não dão conta de fornecer a proteção do emprego, salários justos e mesmo a promessa de uma relação baseada na confiança, as empresas investem pesado no circo, na motivação pela festa, nas miçangas. Tais rituais, que poderiam ter um caráter espontãneo, de reforço e de reconstrução de valores de uma cultura organizacional em permanente transformação, acabam não passando de mero subterfúgio que tenta restabelecer, de forma artificial, laços que são sistematicamente minados pela competitividade, pela pressão por resultados imediatos, pela disputa cega de poder, traduzido em cargos e suas benesses, e pela ameaça constante do corte, da exclusão pura e simples.
Para poder viabilizar os shows – verdadeiras superproduções se comparadas às antigas festas de confraternização -, algumas empresas até se dão ao luxo de fechar suas portas. Clientes podem esperar. Serviços ficam para depois. Objetivos são protelados. Mas, como já li em algumas das muitas convocações para eventos do tipo: o importante é estar juntos!
Ora, o que essas empresas esquecem, incensadas pelos sempre “proativos” senhores do endomarketing, é que as pessoas até vivem sem a festa, se o livre arbítrio, o respeito, a sinceridade, a honestidade estiverem presentes nos pequenos gestos cotidianos.