Quem tem medo das redes sociais?

João J. A. Curvello | Reflexões | quinta-feira, setembro 30th, 2010

Baseadas em premissas e lógicas ultrapassadas, como as que dizem que conversa é desperdício, muitas organizações contemporâneas têm caminhado na contramão dos processos dialógicos e participativos de comunicação. Não raro, bloqueiam o acesso a redes sociais no ambiente de trabalho, alegando necessidade de diminuir consumo de banda ou mesmo a preservação da segurança de informação.

É para essas organizações e seus temerosos (e temerários) gestores que dedico o post de hoje, com o compartilhamento desse vídeo do Olhar Digital que nos mostra que há soluções para uso corporativo que, ao mesmo tempo, aumentam produtividade e preservam a identidade institucional:

Desafios da Comunicação

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões,Teorias | quinta-feira, setembro 30th, 2010

Confiram os slides da minha apresentação no 27º Congresso Confiarp, em Brasília:

A Teoria dos Sistemas Sociais e seus impactos na comunicação organizacional

João J. A. Curvello | Reflexões | sábado, setembro 25th, 2010

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O texto a seguir é um trecho do artigo A perspectiva sistêmico-comunicacional das organizações e sua importância para os estudos da Comunicação Organizacional, de minha autoria, publicado originalmente no livro Comunicação Organizacional Volume I, organizado por Margarida Kunsch (São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 91 a 106).

A Teoria dos Sistemas Sociais de Niklas Luhmann impacta os estudos organizacionais e as análises sobre os processos comunicacionais desde o momento em que muda o eixo de análise do Todo e das partes, da oposição sujeito/objeto, para a diferenciação entre sistema e ambiente. Segundo, quando muda o foco da ação para a comunicação. Para Luhmann, a comunicação é a grande instância que traz em sua composição também a ação (no sentido desenvolvido desde Max Weber). Luhmann também conserva o conceito de sentido, que adquire uma posição central na sua teoria, pois se mostra necessário no processo de fechamento operacional dos sistemas cognitivos e é um produto das operações envolvidas nesse processo. Para o autor, os sistemas sociais são sistemas constituintes e constituídos por sentido. Esses limites de sentido estabelecem um gradiente de complexidade entre sistema e entorno. (RODRIGUEZ, in LUHMANN, 2007, p. xi)

Outro impacto provocado sobre os estudos organizacionais e comunicacionais vem da tese da improbabilidade da comunicação, que se opõe à percepção disseminada desde a Escola de Palo Alto, segundo a qual a comunicação seria inevitável. Com a tese da improbabilidade, Luhmann reconhece os obstáculos que se impõem à comunicação, como a necessidade de acesso, de entendimento e de aceitação daquilo que está sendo compartilhado. Com essa tese, supera-se a visão simplista da transmissão controlada de informações, e nos impõe perguntas como o que aconteceria em outros contextos, em outras circunstâncias, em outros jogos e acordos.

Outra contribuição de Luhmann para superar os limites da análise da comunicação organizacional, por exemplo, surge da oposição entre sua construção teórica e a de Parsons e até mesmo dos teóricos do conflito. Para o autor, a função não pode ser percebida como algo conservador, que não pode ser mudado, porque poderia colocar em risco o próprio sistema, mas como algo que torna possível a observação e a diferenciação e a autopoiese do sistema. Para Luhmann, os sistemas sociais se encontram em processo permanente de mudança. Na relação com o ambiente e com outros sistemas não existe equilíbrio, mas antes de tudo complexidade. Outra novidade trazida por Luhmann, e principal razão de sua clássica polêmica com Habermas, vem da sua visão de que há maior probabilidade de se ter conflito do que consenso nas relações sociais e que a autopoiese do sistema se opera tanto nas bases do conflito quanto do consenso.

Outra questão provocadora para os estudos organizacionais seria a própria definição de organizações como sistemas sociais de tipo particular e único, diferenciados da sociedade. Desse ângulo, resulta impossível pensar que as relações que se estabelecem sejam as de um subsistema em submissão a um sistema global, pois a racionalidade de ambos os sistemas é distinta. Da mesma forma, será distinta a racionalidade entre organizações e demais sistemas também denominados públicos.

A Teoria dos Sistemas Sociais também amplia as possibilidades de compreender teoricamente os processos cognitivos no interior das organizações. Nesse contexto, por exemplo, o aprendizado organizacional e a construção de conhecimento se dariam sobre bases dialógicas, negociadas, considerando tanto a autonomia criativa do sistema organizacional como a dos indivíduos.

Partimos do pressuposto de que as conversações (e mesmo os embates) entre os indivíduos e entre esses e as organizações, antes de representarem perigo e dispêndio de tempo e de recursos, entre outros adjetivos comumente usados por administradores, são sim, instâncias de aprendizagem. São nesses momentos de conversação, que geralmente ocorrem nos corredores ou nos espaços de lazer, como as lanchonetes, que os trabalhadores discutem assuntos relacionados ao trabalho, trocam experiências e aconselham-se mutuamente. Enfrentam os imprevistos e repartem as soluções. Em resumo, interagem. E, por fim, aprendem. Muito mais do que em treinamentos formais, deslocados do ambiente e da cultura do trabalho, uma vez que o conhecimento não pode ser percebido como um estoque de conteúdos a serem preservados, mas como uma competência, uma ação ao mesmo tempo pessoal e engajada em projeto coletivo.

A opção pela abordagem sistêmica se dá em razão da possibilidade de compreender, sob uma lógica processual, a autoconstrução do conhecimento, do sentido e da identidade, em ambientes marcados pela complexidade, pela diferenciação e pelos jogos de poder.

Com nos diz Stockinger (1997, p.7):

Tal criação se dá através de processos de comunicação nos quais ocorrem cruzamentos, misturas e novas conexões de sentido. Isso não quer dizer, no entanto, que cada ato comunicativo cria um sentido novo. A comunicação aparece normalmente como algo repetitivo, redundante e muitas vezes prolixo. Mas, nestes seqüenciamentos repetitivos, desvios se tornam inevitáveis, já que a comunicação ocorre num ambiente incerto, complexo, sujeito a flutuações das mais variadas.
Essas diferenças e novas distinções que certamente aparecem no sistema social são efetivadas provocadas por elementos no ambiente do sistema, essencialmente por humanos que constantemente “irritam“ a comunicação com as mais variadas contribuições criativas.

Por fim, epistemologicamente, o paradigma sistêmico-comunicacional supera a visão mecanicista, reducionista, que trabalha com a simples oposição entre estruturalismo/processualismo, dominação/conflito, afirmação/crítica, por exemplo, e a substitui pelo pensamento sistêmico e complexo, que amplia, em muito, as opções de análise no campo da comunicação organizacional e contribui para libertar o campo da comunicação organizacional de seu caráter meramente utilitário e instrumental.

REFERÊNCIAS:

LUHMANN, Niklas – La sociedad de la sociedad. México: Herder, 2007.

STOCKINGER, Godfried. Sistemas Sociais – A teoria sociológica de Niklas Luhmann. In. PreTextos. Salvador, COMPÓS, [s.p.] 1997.

A incômoda mudança nas cidades

João J. A. Curvello | Reflexões | domingo, setembro 19th, 2010

JaneJacobs

Para bem compreender o que acontece com o Rio, com Brasília, com São Paulo e com muitas outras cidades no mundo, vale a pena ler o livro Morte e Vida de Grandes Cidades, de Jane Jacobs (no Brasil, foi publicado pela Martins Fontes).

Falta de planejamento mata, mas planejamento demais, também. O segredo da pujança e da renovação das cidades está na convivência, no simples ato de cuidar uns dos outros, o que ficou impossível diante do predomínio das grandes vias, das marginais, das grandes auto-estradas, das linhas de todas as cores, mas também dos enclaves urbanos, como os edifícios e os novos condomínios fechados e suas cercas elétricas (verdadeiros campos de concentração hipermodernos).

Afinal, o que é autopoiese?

João J. A. Curvello | Reflexões | sábado, setembro 18th, 2010

Este texto de minha autoria foi publicado originalmente como verbete no Dicionário da Comunicação, organizado por Ciro Marcondes Filho (Ed. Paulus, 2009, p. 35).

(s.f.) # Etim. do grego autós: próprio + poiein: fazer, ou o substantivo poiésis: autofazer-se, autoconstrução, auto–engendramento. # Biologia: os seres vivos seriam sistemas autopoiéticos porque reproduzem todas as unidades elementares de que se compõem, e com isso delimitam as fronteiras e estabelecem distinções com o ambiente. # Sociologia: os sistemas sociais são sistemas autopoiéticos de comunicação, que se autoconstroem e se diferenciam pela comunicação e só pela comunicação podem ser observados e compreendidos.

O conceito de autopoiese foi originalmente desenvolvido pelos pesquisadores chilenos Humberto Maturana (1928-) e Francisco Varela (1946-2001), e aparece pela primeira vez em 1972, no ensaio De Máquinas y Seres Vivos. Em síntese, a autopoiese surge como uma propriedade dos sistemas de se produzirem continuamente a si mesmos, num processo autorreferente que faz com que todo sistema, vivo, psíquico ou social seja ao mesmo tempo produtor e produto, autônomo e dependente. Os autores chilenos identificam essa propriedade como capacidade de forjar identidade. Os sistemas vivos passam a ser descritos então como sistemas fechados operacionalmente na sua autorreferencialidade, orientados para a manutenção de sua identidade.

Niklas Luhmann (A sociedade da sociedade) apropria-se dessa definição para ampliá-la aos sistemas sociais ao vislumbrar no conceito de autopoiese a chave para explicar a autorreferencialidade dos sistemas sociais. E descreve o processo de autopoiese como algo que pode ocorrer de três diferentes maneiras: autopoiese dos sistemas vivos (vida e sistemas vitais), autopoiese dos sistemas psíquicos (que se traduz via consciência) e autopoiese dos sistemas sociais (que se opera via comunicação).

Esses grandes sistemas se diferenciam em relação ao ambiente e constroem seu modo próprio de atuação, bem como suas leis de investigação. Com isso, constituem-se em sistemas fechados operacionalmente, mediante processos de redução da complexidade do ambiente ao qual estão acoplados, processando informação e realizando seleções que lhes são típicas. Só se mesclam mediante interpenetração.

Em resumo, a autopoiese é uma operação cognitiva construída social e comunicativamente. Com o conceito, é possível perceber cada sistema com um organismo, vivo, dinâmico, ativo, que faz constantes seleções para manter a identidade e estabelecer fronteiras e diferenças com o ambiente, mediante diálogos e enunciações nos sistemas e entre os sistemas. Dessa forma, o conceito pode contribuir para a compreensão dos processos comunicativos de construção de sentido e de identidade, de construção e de reconstrução das estruturas sociais, de definição e redefinição dos meios de comunicação, não só nos sistemas vivos e psíquicos, mas também nos sistemas sociais e organizacionais.

Fontes:
LUHMANN, Niklas. La sociedad de la sociedad. México: Herder, 2007.
MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco: De máquinas e seres vivos: Autopoiese – a organização do vivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

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João J. A. Curvello | Convergência Digital,Reflexões | terça-feira, setembro 7th, 2010

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