Sobre interdisciplinaridade e ligação de saberes
Em todos esses anos como professor e pesquisador, trabalho a comunicação como uma disciplina que nasceu e cresceu na interdisciplinaridade. Por isso, tenho lutado por tratar a comunicação social como um campo em que o saber deve ser plural, amplo, diversificado e, por isso mesmo, complexo. Nunca me deixei seduzir pelas idéias reducionistas das áreas profissionais, como jornalismo, RP e PP. Sempre acreditei que o destino da comunicação social era a fusão de saberes e competências. Assim, venho conduzindo minhas disciplinas e minhas pesquisas. E o tempo e os impactos das novas tecnologias, por exemplo, têm provado que meu pensamento estava no caminho certo, apesar do recrudescimento do fundamentalismo corporativo, como o que está sendo engendrado em alguns feudos classistas, que pregam por aí o atrelamento do ensino de comunicação à formação meramente técnica. Os técnicos serão o que sempre foram: técnicos. E o que os espera é o emprego barato das redações ou o desemprego. O mundo de hoje e do futuro está reservado aos pensadores. E é por isso que acredito que um curso de comunicação deve, antes de tudo, levar os alunos a pensar. Por essa razão, prefiro trabalhar no ambiente da complexidade e acreditar que poderemos construir a utopia da ação comunicativa.
Outra questão que precisamos superar, é a crença de que nossa interdisciplinaridade estaria restrita ao campo das ciências sociais. Hoje, muitas das teorias da comunicação se alimentam dos avanços conseguidos no âmbito da física (teoria do caos) e da biologia (teoria dos sistemas autopoiéticos), por exemplo. Como sempre acreditei que a interdisciplinaridade é o caminho, acredito naquelas ciências que não se encastelam nos paradigmas vigentes. A ciência da comunicação é um exemplo disso. Quanto a caminhar juntos na interdisciplinaridade, quero deixar claro que essa palavra não significa trilharmos todos os mesmos caminhos. O saber que chamo de plural se encontra nas esquinas, nem sempre com hora marcada, nem sempre de forma planejada, mas se encontra. E provoca rupturas, provoca revoluções teóricas e paradigmáticas. Quero dizer com isso, que ser interdisciplinar não é pensar igual. Significa, sim, ser diferente e respeitar a diferença, pois só assim é possível estabelecer conexões entre os saberes.