A gestão da comunicação nas diferentes concepções de organização

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões,Teorias | domingo, março 13th, 2011

intO termo organização deriva do neologismo latino “organisatio”, empregado desde o século XIV no âmbito da medicina. Essa origem vincula o conceito à expressão “organum” (organismo). No final do século XVIII, o termo começa a ser empregado como metáfora do corpo social ordenado e também se inicia, já sob influência da nascente revolução industrial, a interpretação das organizações como mecanismos ou máquinas, criados de forma intencional e planejada a partir da racionalidade humana.

O conceito de “organização”, na sua concepção inicial, vinculado ao ato de organizar, ordenar, articular, é dotado de um sentido ativo, dinâmico, capaz de explicar, reformar e reconfigurar o todo social. Confunde-se, portanto, com ação, movimento, que pode desencadear uma espécie de acordo entre as partes e destas com o conjunto. É ainda um sistema de ação conscientemente coordenado para atingir fins ou objetivos comuns, mediante a divisão de funções e de trabalho, através de uma hierarquização da autoridade e da responsabilidade (BARNARD, 2003 e SCHEIN, 2009).

A partir dessa perspectiva, a gestão da comunicação surgiria como atividade-meio, orientada para viabilizar relacionamentos favoráveis à consecução dos objetivos organizacionais. Comunicar seria apenas uma tarefa, um recurso, para atingir os objetivos do sistema, reduzida a um instrumento, geralmente sob a responsabilidade de um profissional que se apresenta como designer de processos, estruturas, hierarquias, departamentos, mídias, seguindo os parâmetros da racionalidade econômica. E que se orienta, principalmente, pelo clássico paradigma da transmissão, no qual a organização seria uma fonte irradiadora de informações.

Outra dimensão muito explorada é a “estrutural”, que se configura pela hierarquia funcional, assimétrica desde a origem, na qual a lógica do poder tende a se sobrepor à racionalidade instrumental. Essa estruturação opera por meio de diretrizes, normas e instruções estabelecidas e comunicadas, desde a direção, e também por aquelas regras tácitas, aceitas como elementos ao mesmo tempo de vinculação e de diferenciação. Quando uma das muitas correntes teóricas da comunicação nas organizações descreve como função da comunicação a integração entre objetivos organizacionais e necessidades dos públicos, está traduzindo essa percepção de que o vínculo não só é necessário como imprescindível para a institucionalização do sistema.

As organizações ainda podem ser descritas como culturas, como sistemas lingüísticos, sígnicos, discursivos, que se apresentam como textos que ao mesmo tempo expressam e ocultam valores compartilhados.

No entanto, as organizações também são tipos muito particulares de sistemas sociais altamente complexos, orientados ainda para o alcance de objetivos específicos, mas criados e recriados em torno da comunicação, que aparece como elemento-chave para a construção, renovação e manutenção de sua identidade (LUHMANN, 2007). Como sistemas que são, estabelecem relações de autonomia e de interdependência como o ambiente. A comunicação, aqui, ainda que apareça como improvável (uma vez que para se realizar depende da superação de barreiras como o acesso, o entendimento e a aceitação da intencionalidade do outro), é o motor que faz com que a organização reduza a complexidade do ambiente, por meio da autocriação e reconfiguração de discursos, expressões e sistemas de diálogo. Independe, portanto, de gestão centralizada, uma vez que permeia toda a estrutura. Uma organização, entendida dessa forma, não é uma entidade estável, mas processual, que se organiza a partir de eventos e que opera em perpétua seleção e decisão. Nessa visão, a gestão comunicacional passa a ser, antes de tudo, a gestão da identidade e da complexidade por meio de competências conversacionais.

Referências:

BARNARD, Chester. Organization and Management: Selected Papers: Early Sociology of Management and Organizations (The Making of Sociology: the Early Sociology of Management and Organization Vol.7). Londres: Routledge, 2003.

LUHMANN, Niklas. La sociedad de la sociedad. México: Herder/Universidad Iberoamericana, 2007.

SCHEIN, Edgar. Cultura Organizacional e Liderança. São Paulo: Atlas, 2009.

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