Margarida Kunsch lança três novos livros

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões,Teorias | domingo, agosto 9th, 2009

A professora Margarida Kunsch, da USP, lança nesta terça-feira, dia 11, às 19 horas, na Livraria da Vila, em São Paulo, três novos livros que expressam o pensamento contemporâneo brasileiro de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.

Muito nos honra ter participado deste projeto. No volume 1, do livro Comunicação Organizacional, no capítulo 5, confiram nossa contribuição no texto “A perspectiva sistêmico-comunicacionaldas organizações e sua contribuição para os estudos da comunicação organizacional”.

Adeus, GM. E também a todo um modelo insustentável baseado no transporte individual.

João J. A. Curvello | Reflexões | sábado, junho 6th, 2009

Michael Moore é assumidamente polêmico. Este artigo, publicado em seu site em 1°. de junho, refere-se à concordata da General Motors. Mas também se refere àquilo a que não mais podemos ficar inertes: a questão da falência do modelo baseado no transporte terrestre movido a petróleo. As cidades, de todos os portes, já se estão tornando inabitáveis. E o que Moore faz aqui é dar mais um grito de alerta e propor a mudança imediata de modelo. Vale ler e refletir:

ADEUS, GM

Por Michael Moore (artigo original emhttp://www.michaelmoore.com/words/message/index.php?id=248)

Escrevo na manhã que marca o fim da toda-poderosa General Motors. Quando chegar a noite, o Presidente dos Estados Unidos terá oficializado o ato: a General Motors, como conhecemos, terá chegado ao fim.

Estou sentado aqui na cidade natal da GM, em Flint, Michigan, rodeado por amigos e familiares ansiosos a respeito do futuro da GM e da cidade. 40% das casas e estabelecimentos comerciais estão abandonados por aqui. Imagine o que seria se você vivesse em uma cidade onde uma a cada duas casas estão vazias. Como você se sentiria?

É com triste ironia que a empresa que inventou a “obsolescência programada” – a decisão de construir carros que se destroem em poucos anos, assim o consumidor tem que comprar outro – tenha se tornado ela mesma obsoleta. Ela se recusou a construir os carros que o público queria, com baixo consumo de combustível, confortáveis e seguros. Ah, e que não caíssem aos pedaços depois de dois anos. A GM lutou aguerridamente contra todas as formas de regulação ambiental e de segurança. Seus executivos arrogantemente ignoraram os “inferiores” carros japoneses e alemães, carros que poderiam se tornar um padrão para os compradores de automóveis. A GM ainda lutou contra o trabalho sindicalizado, demitindo milhares de empregados apenas para “melhorar” sua produtividade a curto prazo.

No começo da década de 80, quando a GM estava obtendo lucros recordes, milhares de postos de trabalho foram movidos para o México e outros países, destruindo as vidas de dezenas de milhares de trabalhadores americanos. A estupidez dessa política foi que, ao eliminar a renda de tantas famílias americanas, eles eliminaram também uma parte dos compradores de carros. A História irá registrar esse momento da mesma maneira que registrou a Linha Maginot francesa, ou o envenenamento do
sistema de abastecimento de água dos antigos romanos, que colocaram chumbo em seus aquedutos.

Pois estamos aqui no leito de morte da General Motors. O corpo ainda não está frio e eu (ouso dizer) estou adorando. Não se trata do prazer da vingança contra uma corporação que destruiu a minha cidade natal, trazendo miséria, desestruturação familiar, debilitação física e mental, alcoolismo e dependência por drogas para as pessoas que cresceram junto comigo. Também não sinto prazer sabendo que mais de 21 mil trabalhadores da GM serão informados que eles também perderam o
emprego.

Mas você, eu e o resto dos EUA somos donos de uma montadora de carros! Eu sei, eu sei – quem no planeta Terra quer ser dono de uma empresa de carros? Quem entre nós quer ver 50 bilhões de dólares de impostos jogados no ralo para tentar salvar a GM? Vamos ser claros a respeito disso: a única forma de salvar a GM é matar a GM. Salvar a preciosa infra-estrutura industrial, no entanto, é outra conversa e deve ser prioridade máxima.

Se permitirmos o fechamento das fábricas, perceberemos que elas poderiam ter sido responsáveis pela construção dos sistemas de energia alternativos que hoje tanto precisamos. E quando nos dermos conta que a melhor forma de nos transportarmos é sobre bondes, trens-bala e ônibus limpos, como faremos para reconstruir essa infra-estrutura se deixamos morrer toda a nossa capacidade industrial e a mão-de-obra especializada?

Já que a GM será “reorganizada” pelo governo federal e pela corte de falências, aqui vai uma sugestão ao Presidente Obama, para o bem dos trabalhadores, da GM, das comunidades e da nação. 20 anos atrás eu fiz o filme “Roger & Eu”, onde tentava alertar as pessoas sobre o futuro da GM. Se as estruturas de poder e os comentaristas políticos tivessem ouvido, talvez boa parte do que está acontecendo agora pudesse ter sido evitada. Baseado nesse histórico, solicito que a seguinte ideia
seja considerada:

1. Assim como o Presidente Roosevelt fez depois do ataque a Pearl Harbor, o Presidente (Obama) deve dizer à nação que estamos em guerra e que devemos imediatamente converter nossas fábricas de carros em indústrias de transporte coletivo e veículos que usem energia alternativa. Em 1942, depois de alguns meses, a GM interrompeu sua produção de automóveis e adaptou suas linhas de montagem para
construir aviões, tanques e metralhadoras. Esta conversão não levou muito tempo. Todos apoiaram. E os nazistas foram derrotados.

Estamos agora em um tipo diferente de guerra – uma guerra que nós travamos contra o ecossistema, conduzida pelos nossos líderes corporativos. Essa guerra tem duas frentes. Uma está em Detroit. Os
produtos das fábricas da GM, Ford e Chrysler constituem hoje verdadeiras armas de destruição em massa, responsáveis pelas mudanças climáticas e pelo derretimento da calota polar.

As coisas que chamamos de “carros” podem ser divertidas de dirigir, mas se assemelham a adagas espetadas no coração da Mãe Natureza. Continuar a construir essas “coisas” irá levar à ruína a nossa espéciee boa parte do planeta.

A outra frente desta guerra está sendo bancada pela indústria do petróleo contra você e eu. Eles estão comprometidos a extrair todo o petróleo localizado debaixo da terra. Eles sabem que estão “chupando
até o caroço”. E como os madeireiros que ficaram milionários no começo do século 20, eles não estão nem aí para as futuras gerações.

Os barões do petróleo não estão contando ao público o que sabem ser verdade: que temos apenas mais algumas décadas de petróleo no planeta. À medida que esse dia se aproxima, é bom estar preparado para o surgimento de pessoas dispostas a matar e serem mortas por um litro de gasolina.

Agora que o Presidente Obama tem o controle da GM, deve imediatamente converter suas fábricas para novos e necessários usos.

2. Não coloque mais US$30 bilhões nos cofres da GM para que ela continue a fabricar carros. Em vez disso, use este dinheiro para manter a força de trabalho empregada, assim eles poderão começar a
construir os meios de transporte do século XXI.

3. Anuncie que teremos trens-bala cruzando o país em cinco anos. O Japão está celebrando o 45o aniversário do seu primeiro trem bala este ano. Agora eles já têm dezenas. A velocidade média: 265km/h. Média de atrasos nos trens: 30 segundos. Eles já têm esses trens há quase 5 décadas e nós não temos sequer um! O fato de já existir tecnologia capaz de nos transportar de Nova Iorque até Los Angeles em 17 horas de trem e que esta tecnologia não tenha sido usada é algo criminoso. Vamos contratar os desempregados para construir linhas de trem por todo o país. De Chicago até Detroit em menos de 2 horas. De Miami a Washington em menos de 7 horas. Denver a Dallas em 5h30. Isso pode ser feito agora.

4. Comece um programa para instalar linhas de bondes (veículos leves sobre trilhos) em todas as nossas cidades de tamanho médio. Construa esses trens nas fábricas da GM. E contrate mão-de-obra local para instalar e manter esse sistema funcionando.

5. Para as pessoas nas áreas rurais não servidas pelas linhas de bonde, faça com que as fábricas da GM construam ônibus energeticamente eficientes e limpos.

6. Por enquanto, algumas destas fábricas podem produzir carros híbridos ou elétricos (e suas baterias). Levará algum tempo para que as pessoas se acostumem às novas formas de se transportar, então se
ainda teremos automóveis, que eles sejam melhores do que os atuais. Podemos começar a construir tudo isso nos próximos meses (não acredite em quem lhe disser que a adaptação das fábricas levará alguns anos – isso não é verdade).

7. Transforme algumas das fábricas abandonadas da GM em espaços para moinhos de vento, painéis solares e outras formas de energia alternativa. Precisamos de milhares de painéis solares imediatamente. E temos mão-de-obra capacitada a construí-los.

8. Dê incentivos fiscais àqueles que usem carros híbridos, ônibus ou trens. Também incentive os que convertem suas casas para usar energia alternativa.

9. Para ajudar a financiar este projeto, coloque US$ 2,00 de imposto em cada galão de gasolina. Isso irá fazer com que mais e mais pessoas convertam seus carros para modelos mais econômicos ou passem a usar as novas linhas de bondes que os antigos fabricantes de automóveis irão construir.

Bom, esse é um começo. Mas por favor, não salve a General Motors, já que uma versão reduzida da companhia não fará nada a não ser construir mais Chevys ou Cadillacs. Isso não é uma solução de longo prazo.

Cem anos atrás, os fundadores da General Motors convenceram o mundo a desistir dos cavalos e carroças por uma nova forma de locomoção. Agora é hora de dizermos adeus ao motor a combustão. Parece que ele nos serviu bem durante algum tempo. Nós aproveitamos restaurantes drive-thru. Nós fizemos sexo no banco da frente – e no de trás também. Nós assistimos filmes em cinemas drive-in, fomos à corridas de Nascar ao redor do país e vimos o Oceano Pacífico pela primeira vez através
da janela de um carro na Highway 1. E agora isso chegou ao fim. É um novo dia e um novo século. O Presidente – e os sindicatos dos trabalhadores da indústria automobilística – devem aproveitar esse momento para fazer uma bela limonada com este limão amargo e triste.

Ontem, a último sobrevivente do Titanic morreu. Ela escapou da morte certa naquela noite e viveu por mais 97 anos. Nós podemos sobreviver ao nosso Titanic em todas as “Flint – Michigans” deste país. 60% da General Motors é nossa. E eu acho que nós podemos fazer um trabalho melhor.

Depoimento ao programa Diálogo ABERJE-Universidades

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões | sexta-feira, maio 1st, 2009

Comunicação interna em tempos de crise

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões | sexta-feira, maio 1st, 2009

bonecos2

Esta entrevista foi concedida ao portal da Giornale Comunicação Empresarial:

Giornale – O momento é de crise financeira. Muitas empresas brasileiras estão demitindo e reduzindo custos. Muitas deixam de investir em comunicação interna. Qual é a sua opinião sobre isso?

Curvello – Todos os sinais sobre a crise econômico-financeira são também contraditórios. Alguns economistas têm dito que a situação brasileira, devido à nossa experiência em processos críticos, é mais favorável do que a de outros países. E que o aumento no número de demissões que temos visto agora seria mais uma ação preventiva, do que propriamente uma saída encontrada para “salvar”, pelo menos em termos financeiros, os balanços das empresas. É certo, porém, que setores baseados na exportação de bens para países que estão em situação mais vulnerável foram e ainda serão afetados pelo efeito sistêmico da crise. Outras empresas, principalmente as internacionais, têm adotado medidas lineares no mundo todo e os cortes de pessoas acabam aparecendo como uma solução para obter resultados rápidos, independentemente da situação local. E há, ainda, aquelas empresas que, na contramão dos discursos de responsabilidade social, e mesmo com o apoio público por meio de empréstimos e de incentivos fiscais, acabam por demitir grandes contingentes de funcionários e praticando o que já se esperava estar superado: a socialização dos prejuízos projetados e a privatização dos lucros realizados.

É essa visão de curto-prazo que vejo como problema, pois induz a tomadas de decisão limitadas pelo viés do momento, que apenas se baseiam na proteção ao risco. Nessas horas, cortam-se despesas e, principalmente, investimentos. Como as áreas financeiras, conceitualmente, incluem os esforços de comunicação como despesa, é previsível que venham a reduzir ou cortar o que consideram “não-essencial”. Mas, como desconhecem o real poder da comunicação, ao fazerem isso, acabam por estrangular a própria organização.

Para mim, em horas como essa é que se deveria investir mais na informação, nas negociações, no compartilhamento de idéias, de impressões e projeções, na construção da confiança entre as pessoas e entre essas e a empresa. Já virou lugar-comum dizer que as crises trazem oportunidades. No caso das empresas que aproveitam o momento para reforçar a coesão interna, essa expressão pode se transformar em realidade. Só um grupo coeso pode enfrentar qualquer turbulência.

Giornale – A comunicação é um fator para superar a crise?

Curvello – A comunicação para mim, e para muitos teóricos da sociedade e das organizações, é vital para a própria existência organizacional. Não há organizações sem comunicação.
As organizações são sistemas de comunicação, sistemas em permanente conversação interna e com todos os públicos de interesse. Mesmo em silêncio, emitem discursos impregnados de informação e de significação.

Penso a gestão da comunicação interna como conjunto de ações planejadas e pensadas estrategicamente e que a organização coordena com o objetivo de ouvir, informar, mobilizar, educar e manter coesão interna em torno de valores que precisam ser reconhecidos e compartilhados por todos e que podem contribuir para a construção de uma boa imagem pública. Por isso, não tenho a mínima dúvida de que a comunicação é, sim, essencial para a superação desta e de outras crises.

Para ilustrar, cito duas pesquisas que reforçam essa tese de que a comunicação interna pode ajudar a superar problemas. Uma, conduzida pelo Hay Group, concluiu que as empresas mais admiradas da revista Fortune aumentaram seu valor em 50% sobre seus concorrentes depois de instituir programas mais fortes de comunicação interna. Outro estudo, realizado pela McKinsey, em 2003, concluiu que 67% das vendas de bens de consumo está baseada no boca a boca, sugerindo como primordial o papel que os empregados podem exercer na concretização de vendas de produtos ou serviços nos seus círculos sociais e familiares.

Giornale – Fale sobe o que pensa sobre o colaborador como agente comunicador.

Curvello – Há mais de dez anos defendo a tese de que a principal colaboração de um profissional de comunicação nas organizações está em educar para a comunicação. Não no sentido restrito de que todos passem a dominar as técnicas, mas principalmente para que compreendam os processos comunicativos. E, compreendendo, contribuam – cada qual a seu modo – para o livre trânsito de informações, para o esclarecimento de dúvidas, para o cumprimento dos compromissos assumidos com colegas e com clientes, por exemplo.

Cada colaborador é, sim, protagonista do processo de comunicação de uma organização, pois cada ato, gesto, fala ou mesmo o seu silêncio transmite discursos que serão recebidos, processados e interpretados pelos públicos com que interagem.

Giornale – Se não há como investir, como reinventar a comunicação interna?

Curvello – Reinventar a comunicação, para mim, passa por pensá-la para além das mídias tradicionais. Passa por utilizar em toda sua capacidade as tecnologias que já estão aí disponíveis, como as que permitem montar redes sociais e comunidades de prática e de aprendizado. Passa, também, por incluir conteúdos sobre os processos de comunicação em cada curso ou treinamento da empresa. Passa por desenvolver e aperfeiçoar as competências conversacionais, principalmente a escuta dos anseios e desejos muitas vezes ocultos nas empresas. Passa compartilhar e explicar cada decisão tomada. Passa por dar sinais de que confiamos nas pessoas.

Giornale – O senhor tem exemplos de corporações que se destacam em relação à comunicação interna, apesar da crise financeira?

Curvello – Agora, no momento da crise, uma empresa que tem levado suas questões internas a público tem sido a Vale, que apesar de já ter demitido no final de 2008, parece ter adotado uma nova postura e investido na negociação com os sindicatos e no estabelecimento de acordos com vistas a não mais demitir. Esse caminho pode ser mais trabalhoso e complexo, mas me parece ser coerente com uma empresa que diz ter visão estratégica e de longo prazo.

Do ponto de vista das políticas de comunicação, há alguns anos a Gerdau, mesmo que de maneira discreta, vem se constituindo numa referência. Há outras empresas que têm procurado manter laços fortes com suas equipes de trabalho.

Giornale – Independente da crise, quais são os novos caminhos da comunicação interna?

Curvello – O primeiro passo é ter em mente que comunicação interna é um processo inerente à vida organizacional, que precisa ser fomentado diariamente e não só em situações de risco, conflito ou crise.

É preciso, ainda, superar preconceitos e medos infundados e criar bases de confiança, que permitam usar plenamente todo o potencial das tecnologias como intranet e redes sociais, por exemplo, sem as amarras que hoje ainda impomos ao livre trânsito de idéias, para que a interatividade ajude a fomentar a criatividade,. Além de investir no respeito à diversidade e à autonomia dos públicos internos.

É necessário derrubar alguns mitos desenvolvidos no campo da gestão, como o de que o sentido está nas palavras, ou que comunicação e informação são sinônimos, ou ainda que a comunicação não requer muito esforço, ou que é um produto que pode ser conduzido como qualquer outro ou ainda que bons oradores são bons comunicadores.

Ao contrário, uma comunicação interna eficaz é aquela que contribui para dar sentido à vida organizacional, que busca o equilíbrio entre as necessidades da organização e as de seus principais públicos e que mobiliza todos os segmentos de uma empresa para uma cultura de diálogo, inovação e participação.

Para que se efetive, repito aqui o que venho escrevendo e propagando há alguns anos, é necessário que os gestores permitam a todos conhecer a direção estratégica a partir de vínculos constantes entre objetivos de longo prazo e ações diárias. É preciso sensibilizar todos os segmentos para a importância de manter relações transparentes e honestas com os diversos públicos e disseminar a visão de que a comunicação é responsabilidade de todos, não só da área técnica ou de uma empresa prestadora de serviços especializados. E, principalmente, investir na educação para a comunicação, a colaboração e o compartilhamento de informações, em todos os níveis. Pois, mais do que persuasão e controle, comunicação é essencialmente diálogo, participação e compreensão.

Inserção Comunitária e Responsabilidade Social

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões | sábado, julho 12th, 2008

Um termo criado há mais de 40 anos na esfera das Relações Públicas tem ocupado as mentes de executivos de organizações públicas e privadas. Trata-se do conceito de responsabilidade social. Na maior parte das vezes, confundido com ações sociais que se expressam pela destinação de parte dos ganhos financeiros para financiamento de indivíduos identificados como carentes e de projetos liderados por organizações sem fins lucrativos. Em muitos casos, há apenas o interesse em associar a marca a projetos comunitários, obter isenções fiscais e, claro, melhorar a imagem junto à sociedade. Não é por acaso que esse tipo de atitude já começa a ser taxada de oportunista.

Entretanto, a essência do conceito vai muito além da destinação de parte das receitas a projetos de terceiros. Há empresas – que felizmente já não são poucas – que além de apoiarem projetos emancipatórios junto à comunidade, incorporam a responsabilidade social de tal forma em seu cotidiano, que passam a ser verdadeiramente responsáveis nas relações de trabalho, na produção e na oferta de seus serviços, nas múltiplas relações que mantém com seus diversos públicos. Essas sabem que a responsabilidade social não é só uma ação imediatista que precisam desenvolver para melhorar sua imagem. Sabem que ser socialmente responsável é assumir o compromisso histórico e verdadeiro com a ética, com a inclusão e com a cooperação. Sabem que precisam participar das redes que se formam para construir um mundo mais justo e mais digno. Sabem, em suma, que mais do que agregar valor a suas imagens, precisam agregar valor à sociedade em que estão inseridas.

Sobre interdisciplinaridade e ligação de saberes

João J. A. Curvello | Reflexões,Teorias | quinta-feira, julho 3rd, 2008

Em todos esses anos como professor e pesquisador, trabalho a comunicação como uma disciplina que nasceu e cresceu na interdisciplinaridade. Por isso, tenho lutado por tratar a comunicação social como um campo em que o saber deve ser plural, amplo, diversificado e, por isso mesmo, complexo. Nunca me deixei seduzir pelas idéias reducionistas das áreas profissionais, como jornalismo, RP e PP. Sempre acreditei que o destino da comunicação social era a fusão de saberes e competências. Assim, venho conduzindo minhas disciplinas e minhas pesquisas. E o tempo e os impactos das novas tecnologias, por exemplo, têm provado que meu pensamento estava no caminho certo, apesar do recrudescimento do fundamentalismo corporativo, como o que está sendo engendrado em alguns feudos classistas, que pregam por aí o atrelamento do ensino de comunicação à formação meramente técnica. Os técnicos serão o que sempre foram: técnicos. E o que os espera é o emprego barato das redações ou o desemprego. O mundo de hoje e do futuro está reservado aos pensadores. E é por isso que acredito que um curso de comunicação deve, antes de tudo, levar os alunos a pensar. Por essa razão, prefiro trabalhar no ambiente da complexidade e acreditar que poderemos construir a utopia da ação comunicativa.

Outra questão que precisamos superar, é a crença de que nossa interdisciplinaridade estaria restrita ao campo das ciências sociais. Hoje, muitas das teorias da comunicação se alimentam dos avanços conseguidos no âmbito da física (teoria do caos) e da biologia (teoria dos sistemas autopoiéticos), por exemplo. Como sempre acreditei que a interdisciplinaridade é o caminho, acredito naquelas ciências que não se encastelam nos paradigmas vigentes. A ciência da comunicação é um exemplo disso. Quanto a caminhar juntos na interdisciplinaridade, quero deixar claro que essa palavra não significa trilharmos todos os mesmos caminhos. O saber que chamo de plural se encontra nas esquinas, nem sempre com hora marcada, nem sempre de forma planejada, mas se encontra. E provoca rupturas, provoca revoluções teóricas e paradigmáticas. Quero dizer com isso, que ser interdisciplinar não é pensar igual. Significa, sim, ser diferente e respeitar a diferença, pois só assim é possível estabelecer conexões entre os saberes.

O lema de uma turma de jovens comunicadores de outros tempos

João J. A. Curvello | Reflexões | quinta-feira, julho 3rd, 2008

Este pequeno trecho do poeta uruguaio Mário Benedetti foi escolhido o lema da minha turma de Comunicação Social na Universidade Católica de Pelotas, no longínquo e ao mesmo tempo tão próximo 1984. Encontrei-o hoje, ao rever, em tom já amarelado, o convite de nossa formatura. Traduz o retrato de um tempo sofrido, mas igualmente de insuperável esperança:

“… se uns caminhos se fecham, há que buscar outros. E no caso de que não existam, há que abri-los. Se os censores fecham a imprensa independente, se os canais de comunicação são destruídos, se as vias de informação são tapadas, nada disso deve impedir, contudo, que a verdade assome sua indiscreta presença. Sempre haverá esquinas, muros, pátios, cartazes, plataformas, paróquias, sótãos, terraços, onde escrever o que for preciso. Depois de tudo, se chegamos a uma situação em que a verdade não pode ser difundida por meios mecânicos, sempre nos resta a atração ao sangue.”

Mário Benedetti (poeta uruguaio)

O Medo Global, por Eduardo Galeano

João J. A. Curvello | Reflexões | quarta-feira, maio 21st, 2008

O Medo Global

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo de comida.
Os motoristas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de serem atropelados.
A democracia tem medo de lembrar e a linguagem tem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.
É o tempo do medo.
Medo da mulher da violência do homem e medo do homem da mulher sem medo.
Medo dos ladrões, medo da polícia.
Medo da porta sem fechaduras, do tempo sem relógios, da criança sem televisão, medo da noite sem comprimidos para dormir e medo do dia sem comprimidos para despertar.
Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver.

Eduardo Galeano, publicado em: De Pernas Pro Ar – A Escola do Mundo ao Avesso.

Nossa real dimensão

João J. A. Curvello | Reflexões | terça-feira, maio 6th, 2008

Nesses dias, andei um pouco afastado do blog, envolvido que estive em eventos, reuniões, leituras, disputas, discussões. Este post reflete um pouco meu pensamento sobre as lutas de poder, sobre o excesso de importância que damos a tudo o que não vale a pena.

O vídeo acima, realizado a partir de um texto de Carl Sagan, nos apresenta a real dimensão desse pálido ponto azul chamado Terra e de seus habitantes diante da imensidão do universo. Já o vídeo abaixo, traz um rock da década de 80, da banda Uns e Outros, atualizada na versão do Biquini Cavadão, com uma letra que ainda se revela contundente e atual.

Afonso Romano de Sant’Anna: mentes simples e mentes complexas

João J. A. Curvello | Reflexões | sábado, abril 26th, 2008

Este texto foi publicado originalmente na coluna do poeta no Correio Braziliense:

Mentes simples e complexas (Affonso Romano de Sant’Anna)

A mente simples é retilínea, plana.
A mente complexa é curva, elíptica.
A mente simples acredita que somando dois com dois vai chegar ao quatro.
A mente complexa sabe que somando dois com três pode chegar a vários resultados, até mesmo, eventualmente, ao quatro.
A mente simples afirma que a linha reta é a menor distância entre dois pontos.
A mente complexa sabe que o universo é curvo e que, portanto, a curva pode também ser a menor distância entre dois pontos.
A mente simples acredita que o que não é branco é preto.
A mente complexa sabe que existe um espectro de cores e é com essa palheta que se chega ao arco-íris.
A mente simples diz furiosa: olho por olho, dente por dente.
A mente complexa pondera como Gandhi, e sabe que dizendo olho por olho acabaremos todos cegos e desdentados.
Lembram-se de quando dividíamos o mundo em esquerda e direita?
Hitler não era de direita nem Stalin de esquerda.
Hitler e Stalin eram mentes perversamente simples.
A mente simples não vê matizes.
É o bem contra o mal, o certo contra o errado, o Ocidente versus Oriente.
O terrorista tem uma mente terrivelmente simples.
O pacifista, até o pacifista, pode ter uma mente desarmadamente simples.
A arte não é uma coisa simples, embora alguns a simplifiquem em receitas, objetos de consumo e marketing.
Bruneleschi e Alberti, que descobriram a perspectiva no Renascimento, não tinham uma mente simples. Goya não tinha uma mente simples. Clarice não tinha uma mente simples. Nem Guimarães Rosa. Bach era simplesmente complexo.
A mente complexa é a que está sempre aberta para novas dimensões. Newton percebeu dimensões novas no universo. Einstein agregou a quarta dimensão. E agora Stephen Hawking nos anuncia que há pelo menos 21 dimensões ou realidades diferentes.
Olhemos a biologia: o ovo não é quadrado. O coração não é retangular. O DNA são espirais que se procuram a si mesmas num interminável balé de curvas.
Olhemos as galáxias. E os ventos. E os vulcões. E as tempestades. Não são simples, não marcham em linha reta.
O amor, ah!, o amor, não é, nunca foi uma coisa simples.

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