No post anterior falei um pouco sobre a hipocrisia de algumas organizações que se dizem socialmente responsáveis apenas para agregar valor à sua imagem. Uma prova de que esse discurso é muitas vezes falso pode ser verificada a partir dessa campanha lançada recentemente no Chile, e que desmascara todo o segmento da indústria do salmão, explorando justamente as incoerências entre o discurso que valoriza as ações sociais, por um lado, e as práticas predatórias e desumanas nas relações de trabalho, por outro.
Essa informação foi originalmente postada no blog Comunicação de Interesse Público, do Ig.
“A Oxfam (organização internacional contra pobreza, sofrimento e injustiça) e a Terram (ong chilena) lançaram a campanha no te lo tragues para informar e sensibilizar o Chile sobre o impacto que a indústria do salmão tem no mercado de trabalho e no meio ambiente ‘A indústria do salmão alimenta o sul do Chile, mas a custa de seus funcionários; promove o esporte, mas seus funcionários trabalham 60 horas por semana; destina recursos às bibliotecas da região, mas tem um das maiores taxas de risco de acidente de trabalho do país; mais de 20 mil mulheres trabalham nessa indústria, mas em condições precárias e com sérias conseqüências para saúde’, denunciam os anúncios. A criação é da agência Carvavilla Boutique Creativa.”
Um termo criado há mais de 40 anos na esfera das Relações Públicas tem ocupado as mentes de executivos de organizações públicas e privadas. Trata-se do conceito de responsabilidade social. Na maior parte das vezes, confundido com ações sociais que se expressam pela destinação de parte dos ganhos financeiros para financiamento de indivíduos identificados como carentes e de projetos liderados por organizações sem fins lucrativos. Em muitos casos, há apenas o interesse em associar a marca a projetos comunitários, obter isenções fiscais e, claro, melhorar a imagem junto à sociedade. Não é por acaso que esse tipo de atitude já começa a ser taxada de oportunista.
Entretanto, a essência do conceito vai muito além da destinação de parte das receitas a projetos de terceiros. Há empresas – que felizmente já não são poucas – que além de apoiarem projetos emancipatórios junto à comunidade, incorporam a responsabilidade social de tal forma em seu cotidiano, que passam a ser verdadeiramente responsáveis nas relações de trabalho, na produção e na oferta de seus serviços, nas múltiplas relações que mantém com seus diversos públicos. Essas sabem que a responsabilidade social não é só uma ação imediatista que precisam desenvolver para melhorar sua imagem. Sabem que ser socialmente responsável é assumir o compromisso histórico e verdadeiro com a ética, com a inclusão e com a cooperação. Sabem que precisam participar das redes que se formam para construir um mundo mais justo e mais digno. Sabem, em suma, que mais do que agregar valor a suas imagens, precisam agregar valor à sociedade em que estão inseridas.
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Em todos esses anos como professor e pesquisador, trabalho a comunicação como uma disciplina que nasceu e cresceu na interdisciplinaridade. Por isso, tenho lutado por tratar a comunicação social como um campo em que o saber deve ser plural, amplo, diversificado e, por isso mesmo, complexo. Nunca me deixei seduzir pelas idéias reducionistas das áreas profissionais, como jornalismo, RP e PP. Sempre acreditei que o destino da comunicação social era a fusão de saberes e competências. Assim, venho conduzindo minhas disciplinas e minhas pesquisas. E o tempo e os impactos das novas tecnologias, por exemplo, têm provado que meu pensamento estava no caminho certo, apesar do recrudescimento do fundamentalismo corporativo, como o que está sendo engendrado em alguns feudos classistas, que pregam por aí o atrelamento do ensino de comunicação à formação meramente técnica. Os técnicos serão o que sempre foram: técnicos. E o que os espera é o emprego barato das redações ou o desemprego. O mundo de hoje e do futuro está reservado aos pensadores. E é por isso que acredito que um curso de comunicação deve, antes de tudo, levar os alunos a pensar. Por essa razão, prefiro trabalhar no ambiente da complexidade e acreditar que poderemos construir a utopia da ação comunicativa.
Outra questão que precisamos superar, é a crença de que nossa interdisciplinaridade estaria restrita ao campo das ciências sociais. Hoje, muitas das teorias da comunicação se alimentam dos avanços conseguidos no âmbito da física (teoria do caos) e da biologia (teoria dos sistemas autopoiéticos), por exemplo. Como sempre acreditei que a interdisciplinaridade é o caminho, acredito naquelas ciências que não se encastelam nos paradigmas vigentes. A ciência da comunicação é um exemplo disso. Quanto a caminhar juntos na interdisciplinaridade, quero deixar claro que essa palavra não significa trilharmos todos os mesmos caminhos. O saber que chamo de plural se encontra nas esquinas, nem sempre com hora marcada, nem sempre de forma planejada, mas se encontra. E provoca rupturas, provoca revoluções teóricas e paradigmáticas. Quero dizer com isso, que ser interdisciplinar não é pensar igual. Significa, sim, ser diferente e respeitar a diferença, pois só assim é possível estabelecer conexões entre os saberes.
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Este pequeno trecho do poeta uruguaio Mário Benedetti foi escolhido o lema da minha turma de Comunicação Social na Universidade Católica de Pelotas, no longínquo e ao mesmo tempo tão próximo 1984. Encontrei-o hoje, ao rever, em tom já amarelado, o convite de nossa formatura. Traduz o retrato de um tempo sofrido, mas igualmente de insuperável esperança:
“… se uns caminhos se fecham, há que buscar outros. E no caso de que não existam, há que abri-los. Se os censores fecham a imprensa independente, se os canais de comunicação são destruídos, se as vias de informação são tapadas, nada disso deve impedir, contudo, que a verdade assome sua indiscreta presença. Sempre haverá esquinas, muros, pátios, cartazes, plataformas, paróquias, sótãos, terraços, onde escrever o que for preciso. Depois de tudo, se chegamos a uma situação em que a verdade não pode ser difundida por meios mecânicos, sempre nos resta a atração ao sangue.”
Mário Benedetti (poeta uruguaio)
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