Sennet e os novos sentidos do trabalho

João J. A. Curvello | Comunicação Organizacional,Reflexões,Teorias | quinta-feira, janeiro 6th, 2011

SennetUm dos autores fundamentais para a compreensão crítica dos novos sentidos no mundo do trabalho é Richard Sennet. Em duas obras publicadas no Brasil na última década (vide referências), disseca como poucos os impactos que as mudanças tecnológicas e gerenciais provocam junto aos trabalhadores e às organizações.

No novo cenário do trabalho, na denominada sociedade pós-industrial e informacionalista, a valorização da velocidade – traduzida na busca incessante pelo resultado no curto prazo, nas estruturas orientadas por projetos, e na flexibilidade dos contratos – acaba por não permitir que as pessoas desenvolvam experiências ou construam uma narrativa coerente para suas vidas, além de afetar a confiança e o comportamento ético (Sennet, 2000).

Esse processo se caracteriza por novas formas e novos modelos de contratação, conforme identificados pelo mesmo Sennet (2006): a casualização (contratação de terceiros ou profissionais por tarefas); a dessedimentação (fragmentação do trabalho); e o sequenciamento não linear (a produção é flexível).

Essa desestruturação das narrativas do trabalho, aliada à alta rotatividade e à implantação de conceitos como o de empregabilidade, que tira do Estado e das organizações a responsabilidade pelos empregos, jogando-a nos braços dos trabalhadores, acaba por acarretar um baixo nível de lealdade institucional, uma diminuição da confiança informal e a diluição do conhecimento institucional.

O capitalismo contemporâneo estaria ancorado, portanto, segundo Sennet (2006), nas novas e frágeis bases de uma burocracia reconfigurada e renovada pela flexibilização e pelo informacionalismo; da gestão dos talentos, que impõe aos trabalhadores o movimento de capacitação e atualização permanentes; e do consumo, em todas as esferas, do mercadológico ao institucional, do privado ao público. O indivíduo, nesse cenário, se vê diante dos seguintes dilemas: para existir socialmente, precisa consumir; para consumir, precisa das recompensas de estar ligado à nova burocracia; para conectar-se à burocracia, precisa estar capacitado.

Referências:

SENNET, Richard. A corrosão do caráter. Rio de Janeiro: Record, 2000.

SENNET, Richard. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006.

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